Uma parte da acção simbólica da televisão, ao nível das informações, por exemplo, consiste em chamar a atenção para factos que são de molde a interessar a toda a gente, dos quais podemos dizer que são omnibus – quer dizer, para toda a gente. Os factos omnibus são os que, como costuma dizer-se, não devem chocar ninguém, que não são disputados, que não dividem, que fazem consenso, que interessam a toda a gente, mas de uma maneira tal que não tocam em nada que seja importante. O caso do dia é essa espécie de género elementar, rudimentar, da informação que se torna muito importante porque interessa a toda a gente sem consequências e porque ocupa tempo, tempo que poderia ser usado para se dizer outra coisa. Ora, o tempo é um género extremamente raro na televisão. E se se empregam minutos tão preciosos para dizer coisas tão fúteis, é porque essas coisas tão fúteis são de facto muito importantes na medida em que escondem coisas preciosas. Se insisto neste ponto é porque sabemos, por outro lado, que há uma proporção muito importante de pessoas que não lêem jornais diários; que se dedicam de corpo e alma à televisão como sua única fonte de informações. A televisão tem um monopólio de facto sobre a formação dos cérebros de uma parte muito importante da população. Ora, pondo a tónica nos casos do dia, preenchendo o tempo raro com vazio, com nada ou quase-nada, afastam-se as informações pertinentes que o cidadão deveria possuir para poder exercer os seus direitos democráticos. Por esta via, traça-se uma divisão, em matéria informativa, entre os que podem ler os diários chamados sérios, se é que estes continuam a ser sérios perante a concorrência da televisão, os que têm acesso aos jornais internacionais, às emissoras radiofónicas em línguas estrangeiras, e, por outro lado, os que têm por única bagagem política a informação fornecida pela televisão, quer dizer aproximadamente nada (fora da informação proporcionada pelo conhecimento directo dos homens e das mulheres em destaque, do seu rosto, das suas expressões, outras tantas coisas que os mais desapossados em termos culturais sabem decifrar, - o que não contribui pouco para os afastar de numerosos responsáveis políticos).
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