Continua a dizer-se, em nome do credo liberal, que o monopólio uniformiza e a concorrência diversifica. Nada tenho, é claro, contra a concorrência, mas limito-me a observar que, quando se exerce entre jornalistas ou jornais que se encontram submetidos às mesmas coacções, às mesmas sondagens, aos mesmos anunciantes (basta ver com que facilidade os jornalistas passam de um jornal para outro), a concorrência homogeneiza. Comparem-se as capas dos semanários franceses com quinze dias de intervalo: os títulos são mais ou menos os mesmos. Da mesma maneira, nos jornais televisivos ou radiofónicos de grande difusão, na melhor das hipóteses, ou na pior, só a ordem das informações transmitidas varia.Isto tem, por um lado, a ver com o facto de a produção ser colectiva. (...)
Mas o colectivo cujo produto são as imagens televisivas não se reduz ao grupo constituído pelo conjunto de uma redacção - engloba o conjunto dos jornalistas. (...) universos onde as imposições colectivas são muito fortes e, em particular as imposições da concorrência, na medida em que cada um dos produtores é levado a fazer coisas que não faria se os outros não existissem (...). Para os jornalistas, a leitura dos jornais é uma actividade indispensável e a revista de imprensa um instrumento de trabalho: para saber o que vão dizer, precisam de saber o que disseram os outros. Tal é um dos mecanismos através dos quais se engendra a homogeneidade dos produtos propostos. Se o Libération der a primeira página a certo acontecimento, o Le Monde não poderá ficar-lhe indiferente, embora possa demarcar-se um pouco para marcar a sua distância e conservar os seus títulos de elevação e seriedade. Mas estas pequenas diferenças às quais, subjectivamente, os diferentes jornalistas dão grande importância, mascaram as semelhanças enormes. (...)
As escolhas que se operam na televisão são de certo modo escolhas sem sujeito. Para explicar esta proposição talvez um pouco excessiva, invocarei simplesmente os efeitos do mecanismo de circulação circular a que já rapidamente aludi: o facto de os jornalistas que, de resto, têm muitas propriedades comuns, de condição, mas também de formação e de origem, se lerem uns aos outros, se verem uns aos outros, se encontrarem constantemente uns com os outros em debates onde aparecem sempre os mesmos, tem efeitos de encerramento e, não devemos hesitar em dizê-lo, de censura tão eficazes - mais eficazes até porque o seu princípio é mais invisível - como os de uma burocracia central, uma intervenção política expressa. (...)
Se nos perguntarmos, pergunta que poderá parecer um tanto ingénua, como são informadas as pessoas que estão encarregadas de nos informar, veremos que, de um modo geral, são informadas por outros informadores. Decerto há a AFP, as agências, as fontes oficiais (ministérios, polícia, etc.), com as quais se considera que os jornalistas mantêm relações de intercâmbio muito complexas, etc. Mas a parte mais determinante da informação, quer dizer dessa informação sobre a informação que permite decidir o que é importante, o que merece ser transmitido, vem em grande parte dos outros informadores. E esse facto conduz a uma espécie de nivelamento, de homogeneização das hierarquias de importância. (...)
Há actualmente uma "mentalidade de níveis de audiência" nas salas de redacção, nas editoras, etc. É em termos de sucesso comercial que em toda a parte se pensa. Há apenas uns trinta anos, e a partir de meados do século XIX, a partir de Baudelaire, Flaubert, etc., no meio dos escritores de vanguarda, dos escritores para escritores, reconhecidos pelos escritores, ou, do mesmo modo, entre os artistas reconhecidos pelos artistas, o sucesso comercial imediato era suspeito: via-se nele um sinal de compromisso com o século, com o dinheiro...
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